terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Bolas de sabão



A noite fora deveras turbulenta: tosse interminável, entrecortada por um choro sofrido, que reclamava a presença repetida, ora do papá, ora da mamã.

A fadiga, crescente, levou o pai a adiar a ida da criança para a escolinha, naquele dia de inverno mal assumido.

Surpreendentemente, o miúdo despertou cedo, com uma boa disposição inusitada, para quem apenas tivera escassas horas de repouso. De imediato, o pai fez seu o sentimento de bem-estar que o pequeno mostrara.

Juntos, seguiram para a escolinha.

Ao chegar ao destino, o pai, apressado, justificou o atraso: “Sabe... ele dormiu mal.. passou a noite mal... Ele e os pais!”.

O milagre deu-se então.

Ao fundo do pátio, encostada a uma parede, uma criatura adulta fazia magia: soprava bolas e mais bolas de sabão, que os miúdos procuravam alcançar, num clima de absoluta euforia e interminável excitação.

Num ápice, o miúdo largou o colo do pai, lançando-se na caça às bolas de sabão.

Perplexo, o pai seguia a pequenada com indisfarçável gozo. Os providencias óculos de sol disfarçavam as rebeldes lágrimas que lhe brotavam dos olhos.

O filho ensinara ao pai a primeira lição.


5 comentários:

  1. Não vem nada a propósito, mas hoje vou à Gulbenkian. Por acaso não vai também?

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  2. Paulo,

    Não vou... O que vai ver? Amanhã, sexta, vou ao Rigoletto.

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  3. Já fui e voltei. Angelika Kirchschlager. O programa era este:

    Benjamin Britten
    Four Sea Interludes, da ópera Peter Grimes, op.33a

    René Koering
    Grand Adagio *

    Edward Elgar
    Sea Pictures, op.37

    Claude Debussy
    La mer

    A voz é pequenina, mas bonita quando sobe.

    Em princípio irei também amanhã ao Rigoletto. Penso que está esgotado mas vou à aventura.

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  4. Muito bem.

    Boa noite. Também desejo que o melhor não seja o repasto, mas... On verra.

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