(Ludwig, de Luchino Visconti)
Não há paralelo possível entre Ossessione e Ludwig, ambos de Luchino Visconti.
Ludwig, a par de Morte em Veneza e O Leopardo, corresponde à última fase criativa do cineasta italiano.
Se o primeiro constitui a pedra de toque do neo-realismo italiano, o segundo enquadra-se numa lógica criativa mais pessoal, liberta das regras da escola e / ou movimento artístico, embora centrada numa problemática pessoal.
A passagem de um a outro dos citados filmes (do início ao final da carreira) dá conta de uma mudança de investimento radical: Ludwig decorre de uma centração narcísica – onde Visconti aborda as suas questões mais íntimas, mormente a homossexualidade e a decadência (de pergaminhos e costumes) -, enquanto Ossessione contém a marca da objectalidade, dado focar-se no outro, no objecto, psicanaliticamente falando.
Pouco originais – embora incontornáveis, reconheço – serão os paralelos entre Luchino e Ludwig, a personagem: ambos amantes da arte, gays, aristocratas e megalómanos.
A figura de Ludwig, contudo, contém aspectos peculiares, magistralmente retratados, nomeadamente a evolução psicótica, de tipo eminentemente insidioso.
A insanidade instala-se discretamente, evoluindo para a deterioração, de modo progressivo. A espectacularidade da bizarria é crescente, como crescente é a retirada autista do rei da Baviera.
Provavelmente, Ludwig padecia de uma esquizofrenia paranóide, cuja evolução é crónica.
Pessoalmente, fascinou-me a obsessão da personagem com a edificação quase incessante de castelos.
(O Castelo de Neuschwanstein - Novo Cisne de Pedra)
Habitualmente, o fascínio de Ludwig da Baviera por castelos é enquadrado na sua megalomania, no esplendor e grandiosidade que lhe eram característicos.
Do meu ponto de vista, esta será uma explicação possível, que enferma de superficialidade! De facto, o quadro psicótico tem uma dinâmica própria, ditada pelo corte com o real, pela dissociação e pela ansiedade de fragmentação e / ou de perseguição.
No esquizofrénico – como em Ludwig – há um vivido persecutório crescente, movido pela identificação projectiva: o perseguidor que o sujeito descreve mais não é do que uma parte intolerável de si próprio, que o indivíduo coloca no objecto, criando assim a ilusão de a controlar.
Ora a edificação de castelos, a meu ver, deverá ser explicada pela lógica da ansiedade de perseguição (sendo que o retraimento autista em muito contribui para a elucidação desta obsessão).
(O Palácio de Linderhof)
O castelo-couraça protege o sujeito do perseguidor, ao mesmo tempo que lhe proporciona uma dimensão de clausura-corte com a realidade externa.
Porém, a construção de um castelo poderá, ainda, ser secundária à necessidade de coesão de um self – um aparelho psíquico, uma mente, se quisermos – que ameaça fragmentar-se, a todo o instante. Se assim for, ao invés de uma mera excentricidade, a construção do dito castelo deverá ser interpretada como um movimento no encalço da saúde - uma busca de limites, de fronteiras entre fora e dentro.
(O Palácio de Herrenchiemsee)
Deste modo, posto que o castelo, além de representar o espaço de invulnerabilidade almejada pelo doente, proporciona um corte com o exterior, ao mesmo tempo que oferece uma ilusão de coesão identitária, a tese da megalomania / excentricidade revela a sua manifesta inconsistência.
(Luchino Visconti, Romy Schneider e Helmut Berger)
Ludwig, a par de Morte em Veneza e O Leopardo, corresponde à última fase criativa do cineasta italiano.
Se o primeiro constitui a pedra de toque do neo-realismo italiano, o segundo enquadra-se numa lógica criativa mais pessoal, liberta das regras da escola e / ou movimento artístico, embora centrada numa problemática pessoal.
A passagem de um a outro dos citados filmes (do início ao final da carreira) dá conta de uma mudança de investimento radical: Ludwig decorre de uma centração narcísica – onde Visconti aborda as suas questões mais íntimas, mormente a homossexualidade e a decadência (de pergaminhos e costumes) -, enquanto Ossessione contém a marca da objectalidade, dado focar-se no outro, no objecto, psicanaliticamente falando.
Pouco originais – embora incontornáveis, reconheço – serão os paralelos entre Luchino e Ludwig, a personagem: ambos amantes da arte, gays, aristocratas e megalómanos.
A figura de Ludwig, contudo, contém aspectos peculiares, magistralmente retratados, nomeadamente a evolução psicótica, de tipo eminentemente insidioso.
A insanidade instala-se discretamente, evoluindo para a deterioração, de modo progressivo. A espectacularidade da bizarria é crescente, como crescente é a retirada autista do rei da Baviera.
Provavelmente, Ludwig padecia de uma esquizofrenia paranóide, cuja evolução é crónica.
Pessoalmente, fascinou-me a obsessão da personagem com a edificação quase incessante de castelos.
(O Castelo de Neuschwanstein - Novo Cisne de Pedra)
Habitualmente, o fascínio de Ludwig da Baviera por castelos é enquadrado na sua megalomania, no esplendor e grandiosidade que lhe eram característicos.
Do meu ponto de vista, esta será uma explicação possível, que enferma de superficialidade! De facto, o quadro psicótico tem uma dinâmica própria, ditada pelo corte com o real, pela dissociação e pela ansiedade de fragmentação e / ou de perseguição.
No esquizofrénico – como em Ludwig – há um vivido persecutório crescente, movido pela identificação projectiva: o perseguidor que o sujeito descreve mais não é do que uma parte intolerável de si próprio, que o indivíduo coloca no objecto, criando assim a ilusão de a controlar.
Ora a edificação de castelos, a meu ver, deverá ser explicada pela lógica da ansiedade de perseguição (sendo que o retraimento autista em muito contribui para a elucidação desta obsessão).
(O Palácio de Linderhof)
O castelo-couraça protege o sujeito do perseguidor, ao mesmo tempo que lhe proporciona uma dimensão de clausura-corte com a realidade externa.
Porém, a construção de um castelo poderá, ainda, ser secundária à necessidade de coesão de um self – um aparelho psíquico, uma mente, se quisermos – que ameaça fragmentar-se, a todo o instante. Se assim for, ao invés de uma mera excentricidade, a construção do dito castelo deverá ser interpretada como um movimento no encalço da saúde - uma busca de limites, de fronteiras entre fora e dentro.
(O Palácio de Herrenchiemsee)
Deste modo, posto que o castelo, além de representar o espaço de invulnerabilidade almejada pelo doente, proporciona um corte com o exterior, ao mesmo tempo que oferece uma ilusão de coesão identitária, a tese da megalomania / excentricidade revela a sua manifesta inconsistência.
(Luchino Visconti, Romy Schneider e Helmut Berger)
perfeito esse filme, ótimo.
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