terça-feira, 14 de junho de 2011

São Carlos: temporada lírica 2011 - 2012

Foi hoje – enfim – divulgada a próxima temporada do Teatro Nacional de São Carlos. Contrariamente ao Paulo – cuja opinião muito estimo e prezo -, não embarco no entusiasmo. É certo que os ventos não sopram de feição – muito menos para as questões da cultura -, mas à parte um ou outro ponto de interesse, a coisa fica-se pela mediocridade.

Dir-me-ão que mantenho uma zanga inalterável com o TNSC, talvez com razão... Quem por lá passou nos derradeiros anos assistiu a uma vergonha sem paralelo, obra de uma gestão acéfala e pindérica. Em duas temporadas, apenas, conspurcou-se um notável trabalho de quase uma década.

Martin André terá sido corajoso em aceder a dirigir o São Carlos. Pessoalmente, nem a peso de ouro me tentariam... Mas quem sou eu?!

Destilado o veneno, vamos a factos, por ordem cronológica:

Don Carlo (Verdi),

O Gato das Botas (Montsalvatge),

Cosi Fan Tutte (Mozart),

Madama Butterfly (Puccini),

Turandot (Busoni) & Francesca da Rimini (Rachmaninov),

Don Pasquale (Donizetti).

Seis produções, para uma temporada, sendo uma dirigida às famílias... Duas novas produções – Don Carlo e a dupla Turandot & Francesca da Rimini. De acordo, haverá La Matos, como Elisabetta di Valois! O melhor a fazer será adquirir entradas para todas as récitas de Don Carlo, au sujet de Mme Matos. Depois, há a insuportável Butterfly...

Pela parte que me toca, as reservas mantêm-se, até prova em contrário.

19 comentários:

  1. João,
    O meu entusiasmo é relativo. Tenho em conta as melhorias significativas (até prova em contrário) e uma ideia de programação, embora com os tostões contados. Convém não esquecer que se temeu que nem chegássemos a ter temporada e quase me surpreende que tenhamos uma com alguma dignidade.
    Penso que teremos algumas coisas boas, mas Lisboa não é Nova Iorque.

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  2. Caro Paulo,

    Claro que iremos assistir a coisas interessantes! Como bem te rexcordas, noutros tempos, Lisboa foi muito digna, nunca sendo NYC ;-) E basta recuar uns quinze anos!

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  3. Com a diferença que nessa época havia muito dinheiro e agora estamos na penúria.

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  4. Muito dinheiro? cof cof
    Isso talvez há 20 e era uma ilusão de inflação a 15%!

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  5. Olá!
    Percebo perfeitamente todas as reservas em relação à programação do Teatro. Mas eu só consigo pensar que ainda bem que há temporada... conheço pessoas que trabalham na Companhia, e é uma dor de alma ouvir a tristeza deles e o relato do mau que é o momento que estamos a atravessar em relação ao financiamento da cultura
    ... creio que para os artistas deve ser mesmo desesperante. Por isso, não consigo ser assim tão crítica, e espero sinceramente vir a gostar das produções do próximo ano. O que não quero pensar é que na ideia de ficarmos sem um teatro de Ópera...
    Saudações e boa música!!!

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  6. Caro João,
    Eu também acho que é bem melhor ter esta temporada do que não ter nada, ou ter aquilo com que fomos presenteados na época Dammann. Lisboa não é, de facto, NY e nem todos podem ir lá ou a outros locais disfrutar de alguns espectáculos.
    A questão colocada pela Elsa, referente aos artistas nacionais, é também muito importante.
    Vejamos o que nos vai ser oferecido. Se a qualidade for idêntica às das últimas duas óperas que vi no São Carlos, não nos podemos queixar, tendo em conta os condicionalismos actuais.
    Cumprimentos.

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  7. A mim o que me desilude no TNSC é não apostar muito nos talentos portugueses e quando aposta, são sempre os mesmos e fazem 1 ou 2 récitas... Aposto que ficaria mais barato montar uma equipa de figurinos, encenação e interpretação portuguesa, em vez de contratar uma equipa estrangeira... é verdade que demoraria mais tempo a montar o espectáculo, mas começando a criar no ano anterior ao que é suposto apresentar, era uma coisa executável.
    há vinte anos a minha professora fazia bastantes óperas tanto no São Carlos como no Coliseu do Porto, cá pela mão do Círculo Portuense de Ópera, que cada ano que passa está mais pobre e a pouca ajuda que tem é dos sócios e dos amigos do CPO... é certo que a parcela da cultura é ridiculamente pequena, mas acho que, com cabeça, dava para fazer coisas interessantes com artistas e criadores portugueses :)

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Já chega de pedantismo não, senhor Dissoluto?

    Haja vergonha e sentido de realidade!

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  10. Anónimo, quando colocar o seu nome por baixo, com propriedade, mandá-lo-ei à merda. Por ora, limito-me a mandá-lo bardamerda, com o devido respeito, claro :-)

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  11. (comentarios acima)
    anónimo, depois dessa o melhor é mesmo enterrares-te num buraco .
    bem fundo.

    outro anónimo

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  12. Não concordo com algumas coisas que se disseram aqui, mas hoje tive uma experiência horrível com o TNSC que não posso deixar de partilhar. Recentemente (a semana passada) o TNSC realizou audições para reforços do seu coro. Sem nomear nomes nem responsabilidades, devo dizer que a uma pessoa conhecida minha foi-lhe comunicado na passada sexta-feira, por escrito, que tinha passado a referida audição. Hoje, passada uma semana inteira, essa pessoa recebe uma chamada onde um "responsável" do TNSC lhe comunica que houve "um lapso" e que o nome não era suposto estar na lista. Para quem está no campo das artes em Portugal, é fácil de perceber o quão devastadora uma notícia destas pode ser.
    Pergunto: como é possível tamanha falta de profissionalismo? como é possível cometerem-se "lapsos" destes?
    Acho isto uma falta de respeito inclassificável por parte do TNSC.

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  13. Anónimo,

    Coisas próprias de um teatro periférico. Palavras para quê?!

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  14. Não aprecio aquela tendência própria do passar dos anos que nos faz olhar para o passado e dizer «no meu tempo…», como se tudo antes fossem rosas e agora só encontremos espinhos.
    Porém, não posso deixar de lamentar o estado a que chegou o nosso único Teatro de Ópera, se bem que tenhamos de reconhecer que a actual direcção, nas presentes circunstâncias, faz o que pode com o pouco que tem.
    Comecei a frequentar o TNSC há cerca de 33 anos (tenho 50).
    Como exemplo, entre Abril de 1979 (chamada «Época da Primavera») e Junho de 1980, o TNSC apresentou:

    Werther (Alfredo Kraus e Viorica Cortez);
    Rigoletto (Renato Bruson, Alfredo Kraus e a nossa Bayan);
    Trilogia das Barcas, do maestro Joly Braga Santos;
    Lohengrin (William Johns, Jeannine Altemeyer e Leif Roar);
    As bodas de Fígaro (Enrico Fissore, Teresa Zylis-Gara, Elsa Saque);
    A Serrana;
    Salomé (Rose Wagemann, Hermann Becht, Regine Resnik);
    La Bohème (Franco Bonisolli, Elsa Saque);
    Così fan tutte (Elena Mauti-Nunziata, Luigi Alva, Sesto Bruscantini);
    Don Giovanni;
    O cavaleiro da rosa (Teresa Zylis-Gara, Hans Sotin);
    Aida (Mara Zampieri, Nicola Martinucci, Fiorenza Cossotto, Antonio Salvadori, Ivo Vinco);
    A força do destino (Mara Zampieri, Nunzio Todisco, Giorgio Zancanaro, Nicola Ghiuselev);
    Os pescadores de pérolas (Alfredo Kraus, Elsa Saque, Vicente Sardinero);
    Wozzeck;
    Acis e Galatea;
    Parsifal (Peter Hofmann, Dunja Vejzovic, Leif Roar);
    Os puritanos (com a nossos Bayan a Carlos Jorge);
    O amor industrioso de João Sousa Carvalho.
    Logo na temporada seguinte, foi a vez da reposição de O amor industrioso, seguindo-se:
    Ariana en Naxos;
    Lulu;
    Macbeth (com o Renato Bruson);
    O Morcego (com o Eberhard Waechter);
    O Ouro de Reno (na produção de Wolf-Siegfried Wagner);
    A Valquíria;
    Aida (reposição, substituindo-se Fiorenza Cossotto por Stefania Tosziska que desempenhou, no mesmo ano, Amnéris numa produção da Ópera de São Francisco de que existe DVD no mercado);
    Moisés;
    Werther (de novo com Alfredo Kraus e agora com Liliane Bizineche);
    Tosca (Rita Orlandi-Malaspina e Veriano Luchetti);
    O Trovador (com a cigana paradigmática – Fiorenza Cossotto).
    Houve de tudo: espectáculos excepcionais e outros nem tanto…
    Mas será que o presente resiste à comparação?
    Podemos comparar o tempo actual com o tempo em que, na chamada Temporada da Primavera, com apenas dois meses de duração, se apresentavam no TNSC: Simão Bocanegra (com Piero Cappuccilli e Mara Zampieri); a então muito recente CNB; Otelo (com Richard Cassily, Maria Oran, Thomas Stewart - por sinal, um excelente barítono wagneriano); A vingança da Cigana (de Leal Moreira) e a Voz Humana (de Francis Poulenc); os meninos cantores de Viena; Tosca
    (em que estava prevista a vinda de Raina Kabaivanska que teve de ser substituída por uma cantora chamada Arlene Saunders); A camerata Académica de Salzburgo; Spinalba; D. Giovanni. Uma mini-temporada de dois meses que vale por uma temporada inteira actual (a descrita reporta-se a 1978).

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  15. Acham que a Matos pode fazer uma boa Elisabete?
    Pelos videos disponiveis na net tenho algumas reservas. Falta-lhe doçura. Imagino-a a fazer uma boa Eboli, tal como a Violeta Urmana, mas nao creio que a Elisabete seja dos papeis que mais lhe convem.

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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  17. Anónimo: De facto, impressionante essa temporada. Vejzovic e Hofmann no Fal Parsi, Sotin e Zylis-Gara no Cavaleiro da Rosa.
    Estamos mesmo a anos-luz desses tempos.

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  18. Mr. Lg, el MIster27 junho, 2011 10:39

    Vítor,
    Porque este povo não valoriza a cultura, a educação e a formação. Este povo AINDA não é totalmente CIVILIZADO.
    Curto e grosso.
    Ponto final.
    all the Best.
    LG

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