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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Mehta's Handel
(HMC 902077)
Há uns bons dez anos, no Châtelet, assisti a uma produção memorável de Mitridate, Ré di Ponte (Mozart), dirigida por Christophe Rousset. Pouco depois, a DECCA comercializou esta ópera, dirigida pelo mesmo maestro, contando com um elenco substancialmente diferente, mais estrelar, porventura. Verdadeiramente, fora o Farnace, interpretado por Bejun Mehta, quem mais me entusiasmara na récita. Demasiado jovem, à época (???), na gravação comercial cedeu o lugar a Brian Asawa. Muito me decepcionou tamanha manobra…
Desde então, Mehta entrou para o meu top 5 de contra-tenores contemporâneos – onde figuram os incontornáveis Daniels, Lesne, Jaroussky e Scholl.
Mehta (sobrinho do maestro Zubin Mehta, por sinal) tem uma técnica muito segura e sólida, interpretando as passagens de bravura com assinalável mestria. A voz goza ainda de certa extensão e flexibilidade.
Apesar de contar com uma carreira lírica de primeira água - Aix, Met, Salzburgo, Innsbruck -, em termos de edição discográfica, o contra-tenor americano sempre foi desafortunado.
Recentemente, pela mão do mestre Jacobs, Mehta estabeleceu uma ligação comercial – que se pretende duradoira! - com a notável Harmonia Mundi. O presente registo constitui, pois, o début de Bejun Mehta nesta casa.
Em Ombra Cara, o artista (à semelhança dos seus contemporâneos) não resiste a revisitar o repertório em que se notabilizou Senesino, o castrato oriundo de Siena, para quem Handel escreveu algumas das mais célebres árias. Mehta intercala passagens que demandam uma extrema agilidade – Agitato da fiere tempeste (Agrippina) -, com árias imensamente lírica, profundamente recatadas - Stille amare (Tolomeo, Re d’Egitto). Triunfa em toda a linha, apenas evidenciando uma dificuldade: a articulação tende a esbater as consoantes, sublinhando em demasia as vogais. A musicalidade permanece imaculada, já a expressão, nem tanto.
Apenas lhe falta o cristal!
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(4.5/5)
Curiosamente também a minha única experiência ao vivo com o cantor foi numa récita de Mitridate re de ponto. Em Bruxelas.
ResponderEliminarEsteve muito bem.