«Iago's Homosexuality is the key to understanding Shakespeare's characterisation. Homosexuality doesn't really occur in renaissance drama, particularly tragedies. So it's quite surprising that as an audience we are left to wonder if Iago is infact gay. What can be confirmed is that Iago's sexuality is extremely twisted. He clearly shows negative feelings towards his wife and she could be seen as just a helper in his plans, or even a cover up to his true sexuality. " You rise play, and go to bed to work.", he is completely degrading women. Emilia replies, " You shall not write my praise." Shakespeare set's up their rocky relationship from the first exchange we see between them. This means there could be more tension to come from the loveless couple. Iago tells Othello, " I am yours favour" this almost sounds like vow for a marriage and sets up the indication that Iago might be gay.»
Embora Jon Vickers e o meu amigo Raul rejeitem a tese da homossexualidade reprimida de Iago, à semelhança de Bergeret (pp 283-286)* - que, aliás, descreve Iago como um homossexual perverso (sendo que uma coisa não implica a outra, comummente!) -, creio que o objecto de amor da vil criatura é o próprio Otelo.
Outros exemplos de homossexualidade reprimida abundam, na lírica, embora não forçosamente ancorados em estruturas perversas, como é o caso do abjecto Iago.
Numa outra linha, creio que a compulsividade das conquistas femininas de Don Giovanni reflecte uma luta contra a emergência de uma homossexualidade, reprimida a todo o custo.
Esta compulsividade predadora, característica de certo pseudo - garanhão, que colecciona carne feminina – tão típica de figuras públicas sobejamente conhecidas (Hemingway, Brando, para não mencionar outras, lusas, ainda no activo) – organiza-se sob a forma de uma formação reactiva – transformação da pulsão no seu contrário. Por via deste mecanismo, o sujeito afirma uma heterossexualidade indesmentível, que camufla uma verdadeira homossexualidade, não forçosamente agida ou plenamente vivenciada.
Repare o fiel leitor como, o mor das vezes, o garanhão compulsivo que descrevo revela uma particular homofobia! O horror e repúdio pelo universo gay constituem, nestes casos, verdadeiras tentativas de manter à distancias fantasmas homossexuais, cuja existência (embora a nível latente) o sujeito reconhece e rejeita.
Noutro plano, se pegarmos na obra lírica de Britten - nomeadamente em Peter Grimes e Billy Budd -, assistimos a uma homossexualidade expressa pela via do sado - masoquismo, posto que existe um pólo activo / agressor (Peter Grimes e John Claggart), que exerce o seu poder sobre o pólo passivo / agredido (o aprendiz e Billy Budd), que a ele se submete.
* vide Bergeret, J. (1996). La personnalité normale et pathologique. Paris: Dunod.
Creio que o repúdio pelo universo «gay» pode bem dever-se a uma certa concepção do homem e da sua natureza, sem que haja nisso qualquer esforço de ocultação da própria identidade ou dos temores que afectam o sujeito.
ResponderEliminarCumprimentos,
josé García Pimentel
Pois, quando o dito repúdio assume dimensões excessivas, desconfio...
ResponderEliminarAprecio a sua tese quanto a Iago, mas mantenho algumas reservas quanto à sua desconfiança.
ResponderEliminarÉ que, levada ao extremo e generalizada, implicará considerar que o homem não é capaz de repudiar nada sem que, com isso, se negue a si próprio.
"negar-se a si próprios" significa o quê, precisamente?
ResponderEliminarComo disse atrás, no texto de Boito há palavras que, desviadas do seu contexto, podem levar a uma paixão "gay" de Iago por Otelo. E a ideia do compositor? Ele, embora espelho da Humanidade, mas "duro como uma rocha", "straight" até à medula, inclinado, sim, mais para o amor pai-filha, que tanto chorou a perda e que pôs em palco desde o Nabucco ao Falstaff, iria conceber um amor "gay"? Temos de aceitar que a obra de Arte criada se liberta imediatamente do seu criador e pensar não no Scarpia de Puccini, mas no Scarpia de Puccini/Zeffirelli.
ResponderEliminarCaro,
ResponderEliminarNão coloque tudo a preto e branco! Há matizes e cinzas! Além disso, o criador baseou-se num outro criador, W. Shakespeare...
Bom, o próprio Shakespeare podia não ter consciência do que estava a escrever. A arte não é totalmente controlada de forma consciente pelo seu criador (e felizmente!)
ResponderEliminarNegar-se a si próprio significaria dizer que o homem não é um ser livre, dotado de inteligência, apto a escolher entre o que considera certo e errado, porque, em última análise, qualquer afirmação de repúdio ou de rejeição resultaria sempre (como num determinismo) de uma postura reactiva, e não afirmativa/construtiva também.
ResponderEliminarNão vejo como repudiar a homossexualidade signifique, sempre, repudiar o próprio «eu» (na medida em que estaria em causa negar a própria identidade sexual do sujeito); estou certo que um homem sem qualquer tendência homossexual pode bem sentir essa repugnância pelo universo «gay», bastando, para tal, que ele fira o núcleo essencial de valores e princípios que de que ele comunga e sobre o qual assenta a sua vida.
José García Pimentel
" querelle " do Sr. Fassbinder é um exemplo,por exemplo.Se é verdade que os extremos se tocam....então está tudo explicado.
ResponderEliminarEsta do iago gay nunca me tinha ocorrido! Em brincadeira já me tinha vindo à mente a possibilidade que aTurandot ocultasse umas certas tendências lésbicas, bem como desenvolvi algumas suspeitas em relação ao dueto "amoroso" entre o Carlos e o amigo no Don Carlo, agora desta é que não estava mesmo nada à espera! :P
ResponderEliminarBlogger,
ResponderEliminarTurandot era frígida :-) Quanto a Carlo & Roderigo, concordo consigo :-D