O D. Carlos é absolutamente maravilhoso. Encenação tradicional e bastante velhota. O Domingo e a Freni estão absolutamente maravilhosos, destaque para o "tu que la vanitta" e dueto, Ghiaurov pleno de autoridade, Bumbry bastante basica mas cheia de energia. Destoa o baritono mas de resto é uma gravação muito conseguida.
Conheço bem esta gravação, pois tenho em disco laser, antes de haver DVD. Os melhores sem dúvida são a Freni, absolutamente notável, e a Bumbry. O Domingo está num dia mau, como o reconhece ao agradecer os aplausos, mas como é um cantor com génio, consegue o melhor que pode contornar as dificuldades. O Ghiaurov cenicamente uma autoridade, mas a voz já não responde como respondia uma década atrás. Furlanetto, irreconhecível na sua caracterização do Grande Inquisidor, não tem o peso vocal para o papel que foi glória de um Neri e de um Talvella. Resta Louis Quilico que já devia estar reformado, tendo uma prestação muito fraca. Sobre esta gravação já fiz neste blogue igual comentário talvez há uns três anos. É só procurar. Curiosamente o João Ildefonso concordou comigo, inclusivamente com os problemas do Domingo e agora dizes que o Domingo está "absolutamente maravilhoso"!!!
O Don Carlo aqui proposto é, porventura, a recomendação mais segura da ópera em DVD. Todos em óptimo plano, não obstante os agudos algo forçados e opacos de Domingo nas páginas iniciais. O próprio Louis Quilico defende-se bastante bem, tendo em consideração as circunstâncias.
concordo com a sua avaliação, na generalidade. A Freni, como sempre, demonstra uma imensa inteligência dramático-vocal e uma técnica magnífica que lhe permite afrontar papéis "spinto" como a Elisabetta di Valois. Grace Bumbry, com a constante alternância entre o reportório para mezzo e soprano, ressente-se de um défice de foco no centro da voz, embora tal não comprometa a sua óptima prestação. Relativamente ao Domingo, julgo que contorna com bravura as dificuldades que o assolam, sobretudo no primeiro acto. O Ghiaurov é tal como afirma: um ligeiro desgaste fruto da idade mas que não deslustra em nada o seu Filippo pois o glorioso timbre permanece lá. O Grande Inquisidor de Furlanetto peca por uma certa falta de autoridade e peso vocal, sobretudo quando comparado com o veterano Jerome Hines na mesma produção, em 1980. Finalmente, o Rodrigo do Louis Quilico acusa algum desgaste na voz que, na minha óptica, o interprete vai debelando com o avançar da récita.
Acho que o Domingo nesta gravação não é comparável consigo próprio nas gravações de juventude mas mesmo assim acho-o muito bom. A voz acusa algum desgaste e o timbre está mais escuro do que o papel pede mas é sempre estimulante ver um cantor tão empenhado e inteligente a superar um papel tão intenso e longo e no último acto especialmente mereçe um "Oscar" pela interpretação.
Caro Hugo, Não conheço essa interpretação do Hines no Met. Mas é fácil imaginar quão grande e poderosa deve ser e como ficará a everestes acima do Furlanetto, um Leporello a cantar o Grande Inquisidor. Ele até tem sorte já não haver a Santa Inquisição, senão ainda iria para a tenebrosa festa do Rossio :). O Jerome Hines foi um grande baixo profundo, ideal Mefistofles, física e vocalmente, como se pode ver no Youtube, assim como o Grande Inquisidor.
Don Carlo! Don Carlo! ... vertem-se lágrimas de saudade pela vaillance e juventude de Domingo! :-) aqui perfeitamente adequadíssimo no papel de Don Carlo. Ora veja-se SÓ! o final do IIIº Acto, da cena do Auto-da-Fé. :-) "Tu che le vanitá conoscesti del mondo..." LG
Caro Hugo, Obrigado, mas conheço no Youtube a interpretação do Hines no Grande Inquisido, não conheço é do Met em alternância com o Furlanetto. Quando diz que este dvd é a recomendação mais segura para o Don Carlo, embora reconheçamos que o facto não termos o Domingo como, por exemplo no Trovador/Salzburgo ou em quase todos os dvds que existem dele; e contarmos com um Rodrigo fraco, eu concordo consigo, porque as outras versões que conheço (Karajan, Chally, que eu vi em Amsterdão, e a do Covent Garden) são no seu conjunto inferiores a esta. Freni e Ghiarouv são superiores aos restantes e a Bumbry só rivaliza com a Baltsa. Eu gosto da encenação por ser tradicional sem ser ridícula.
estive a vasculhar na minha colecção e encontrei a gravação que mencionei no meu comentário anterior. Trata-se de uma récita efectuada no MET a 15 de Março de 1983, dirigida por James Levine. Além de Jerome Hines como o Grande Inquisidor, o Rodrigo passa a ser o Allan Monk (que cantou o Wozzeck no São Carlos em 1980, se não estou em erro) e a Princesa de Eboli a Bianca Berini.
Gostaria somente de reforçar a sua última frase. Numa era dominada pela tirania dos encenadores, nada melhor do que uma encenação tradicional e sóbria. Permite ao espectador uma verdadeira "lavagem visual".
Caro Hugo, Sobre o que pensava disto de encenações e muitíssimo mais é "obrigatório" ver no Youtube uma entrevista à Callas na rádio de quase hora e meia. Descobri-a ontem, pois foi lançada em 29 de Setembro último. A entrevista data de 1976 é em francês, mas para quem não domina a língua de Voltaire -- no meu tempo de menino e moço era mais importante que o inglês --, existe a tradução em inglês, embora se perca um bocado. A entrevista está dividida em 8 partes e eu ainda só ouvi as 4 primeiras partes. É uma Callas surpreendente, descontraída, que fala naturalmente de tudo que vem a propósito, saindo da sua posição habitual de deusa, da Juno que era, sem dúvida. Sobressai a vivacidade do diálogo, os temas, os juízos, o maravilhoso politicamente incorrecto.
Acrescentando: A Callas refere uma encenação do Fausto que é passada num guetto de Nova Iorque e profetizando fala da tirania da encenação e do fim da ópera. Aí falha, pois deve haver inovação, mas não disparate como aquele nefando Don Giovanni de marionettes que eu vi há uma década no São Carlos. Mas o público tem estado atento pateando as anomalias e eles, os encenadores anormais, não podem dizer no fim que foi uma época de triunfo para eles.
Sobre essa encenação do Don Giovanni por Achim Freyer, deparei-me, neste Verão, com uma transmissão em directo no canal por cabo Mezzo a partir da ópera de Rennes. Tudo o que lhe posso dizer é que "aguentei" até ao final da primeira cena.
obrigado pela informação sobre a entrevista. Terei um imenso prazer em fruir dela.
Existe, igualmente, uma outra bastante interessante no YouTube com Edward Downes, datada de 1967.
Além destas, convém não esquecer a conversa de mais de três horas e meia com Lord Harewood que, afortunadamente, possuo na íntegra e constitui um documento notável do mito Callas.
Hugo, Para chegar à entrevista coloque no motor de busca "Maria Callas interview 1977". Incrível a última frase da genial cantora. Eu pus lá um comentário e em português. O Hugo ponha também.
CREDO!!!
ResponderEliminarNem quero imaginar os filmes de Welles dobrados em espanhol. Porque aposto que estão. Eles dobram tudo.
Teresa.
ResponderEliminarNada disso! Há vo e v dobrada. Para todos os gostos, portanto!
João
ResponderEliminarO D. Carlos é absolutamente maravilhoso. Encenação tradicional e bastante velhota. O Domingo e a Freni estão absolutamente maravilhosos, destaque para o "tu que la vanitta" e dueto, Ghiaurov pleno de autoridade, Bumbry bastante basica mas cheia de energia. Destoa o baritono mas de resto é uma gravação muito conseguida.
Conheço bem esta gravação, pois tenho em disco laser, antes de haver DVD. Os melhores sem dúvida são a Freni, absolutamente notável, e a Bumbry. O Domingo está num dia mau, como o reconhece ao agradecer os aplausos, mas como é um cantor com génio, consegue o melhor que pode contornar as dificuldades. O Ghiaurov cenicamente uma autoridade, mas a voz já não responde como respondia uma década atrás. Furlanetto, irreconhecível na sua caracterização do Grande Inquisidor, não tem o peso vocal para o papel que foi glória de um Neri e de um Talvella. Resta Louis Quilico que já devia estar reformado, tendo uma prestação muito fraca.
ResponderEliminarSobre esta gravação já fiz neste blogue igual comentário talvez há uns três anos. É só procurar. Curiosamente o João Ildefonso concordou comigo, inclusivamente com os problemas do Domingo e agora dizes que o Domingo está "absolutamente maravilhoso"!!!
O Don Carlo aqui proposto é, porventura, a recomendação mais segura da ópera em DVD. Todos em óptimo plano, não obstante os agudos algo forçados e opacos de Domingo nas páginas iniciais. O próprio Louis Quilico defende-se bastante bem, tendo em consideração as circunstâncias.
ResponderEliminarUm Dom Carlos inesquecível!
ResponderEliminarCaro Raul,
ResponderEliminarconcordo com a sua avaliação, na generalidade. A Freni, como sempre, demonstra uma imensa inteligência dramático-vocal e uma técnica magnífica que lhe permite afrontar papéis "spinto" como a Elisabetta di Valois. Grace Bumbry, com a constante alternância entre o reportório para mezzo e soprano, ressente-se de um défice de foco no centro da voz, embora tal não comprometa a sua óptima prestação. Relativamente ao Domingo, julgo que contorna com bravura as dificuldades que o assolam, sobretudo no primeiro acto. O Ghiaurov é tal como afirma: um ligeiro desgaste fruto da idade mas que não deslustra em nada o seu Filippo pois o glorioso timbre permanece lá. O Grande Inquisidor de Furlanetto peca por uma certa falta de autoridade e peso vocal, sobretudo quando comparado com o veterano Jerome Hines na mesma produção, em 1980. Finalmente, o Rodrigo do Louis Quilico acusa algum desgaste na voz que, na minha óptica, o interprete vai debelando com o avançar da récita.
Acho que o Domingo nesta gravação não é comparável consigo próprio nas gravações de juventude mas mesmo assim acho-o muito bom. A voz acusa algum desgaste e o timbre está mais escuro do que o papel pede mas é sempre estimulante ver um cantor tão empenhado e inteligente a superar um papel tão intenso e longo e no último acto especialmente mereçe um "Oscar" pela interpretação.
ResponderEliminarCaro Hugo,
ResponderEliminarNão conheço essa interpretação do Hines no Met. Mas é fácil imaginar quão grande e poderosa deve ser e como ficará a everestes acima do Furlanetto, um Leporello a cantar o Grande Inquisidor. Ele até tem sorte já não haver a Santa Inquisição, senão ainda iria para a tenebrosa festa do Rossio :). O Jerome Hines foi um grande baixo profundo, ideal Mefistofles, física e vocalmente, como se pode ver no Youtube, assim como o Grande Inquisidor.
LOL
ResponderEliminarDon Carlo! Don Carlo!
ResponderEliminar... vertem-se lágrimas de saudade pela vaillance e juventude de Domingo! :-) aqui perfeitamente adequadíssimo no papel de Don Carlo.
Ora veja-se SÓ! o final do IIIº Acto, da cena do Auto-da-Fé. :-)
"Tu che le vanitá conoscesti del mondo..."
LG
Raul,
ResponderEliminarpode encontrar o confronto com Filippo aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=IOTm_ec42z4
Julgo também possuir uma gravação ao vivo do Grande Inquisidor de Hines, se não me engano.
Caro Hugo,
ResponderEliminarObrigado, mas conheço no Youtube a interpretação do Hines no Grande Inquisido, não conheço é do Met em alternância com o Furlanetto. Quando diz que este dvd é a recomendação mais segura para o Don Carlo, embora reconheçamos que o facto não termos o Domingo como, por exemplo no Trovador/Salzburgo ou em quase todos os dvds que existem dele; e contarmos com um Rodrigo fraco, eu concordo consigo, porque as outras versões que conheço (Karajan, Chally, que eu vi em Amsterdão, e a do Covent Garden) são no seu conjunto inferiores a esta. Freni e Ghiarouv são superiores aos restantes e a Bumbry só rivaliza com a Baltsa. Eu gosto da encenação por ser tradicional sem ser ridícula.
Raul,
ResponderEliminarestive a vasculhar na minha colecção e encontrei a gravação que mencionei no meu comentário anterior. Trata-se de uma récita efectuada no MET a 15 de Março de 1983, dirigida por James Levine. Além de Jerome Hines como o Grande Inquisidor, o Rodrigo passa a ser o Allan Monk (que cantou o Wozzeck no São Carlos em 1980, se não estou em erro) e a Princesa de Eboli a Bianca Berini.
Gostaria somente de reforçar a sua última frase. Numa era dominada pela tirania dos encenadores, nada melhor do que uma encenação tradicional e sóbria. Permite ao espectador uma verdadeira "lavagem visual".
Caro Hugo,
ResponderEliminarSobre o que pensava disto de encenações e muitíssimo mais é "obrigatório" ver no Youtube uma entrevista à Callas na rádio de quase hora e meia. Descobri-a ontem, pois foi lançada em 29 de Setembro último. A entrevista data de 1976 é em francês, mas para quem não domina a língua de Voltaire -- no meu tempo de menino e moço era mais importante que o inglês --, existe a tradução em inglês, embora se perca um bocado. A entrevista está dividida em 8 partes e eu ainda só ouvi as 4 primeiras partes. É uma Callas surpreendente, descontraída, que fala naturalmente de tudo que vem a propósito, saindo da sua posição habitual de deusa, da Juno que era, sem dúvida. Sobressai a vivacidade do diálogo, os temas, os juízos, o maravilhoso politicamente incorrecto.
Acrescentando:
ResponderEliminarA Callas refere uma encenação do Fausto que é passada num guetto de Nova Iorque e profetizando fala da tirania da encenação e do fim da ópera. Aí falha, pois deve haver inovação, mas não disparate como aquele nefando Don Giovanni de marionettes que eu vi há uma década no São Carlos. Mas o público tem estado atento pateando as anomalias e eles, os encenadores anormais, não podem dizer no fim que foi uma época de triunfo para eles.
Sobre essa encenação do Don Giovanni por Achim Freyer, deparei-me, neste Verão, com uma transmissão em directo no canal por cabo Mezzo a partir da ópera de Rennes. Tudo o que lhe posso dizer é que "aguentei" até ao final da primeira cena.
ResponderEliminarRaul,
ResponderEliminarobrigado pela informação sobre a entrevista. Terei um imenso prazer em fruir dela.
Existe, igualmente, uma outra bastante interessante no YouTube com Edward Downes, datada de 1967.
Além destas, convém não esquecer a conversa de mais de três horas e meia com Lord Harewood que, afortunadamente, possuo na íntegra e constitui um documento notável do mito Callas.
Hugo,
ResponderEliminarPara chegar à entrevista coloque no motor de busca "Maria Callas interview 1977". Incrível a última frase da genial cantora. Eu pus lá um comentário e em português. O Hugo ponha também.
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