À leitura entusiasta e entusiasmante de Don Giovanni e Roméo et Juliette da presente edição do festival austríaco, proposta há dias pelo Le Figaro, eis o veredicto do El Pais, bem mais contido e reticente:
(A dupla Donna Anna e Don Giovanni, ossia Anette Dasch e Christopher Maltman, em Don Giovanni, Salzburgo, Agosto de 2008)
Esta fotografia seria a última coisa que me faria lembrar o Don Giovanni. Se calhar o Mozart até acharia piada ! Acontece que não está entre os vivos para dar opinião.
ResponderEliminarE voltamos à insistência de que há uma atracção sexual da parte de Dona Anna em relação ao Don Giovanni. Mas é tudo invenção dos encenadores.
Quanto à fotografia em si, bonita de ver, mas noutro contexto, faz-me pensar que o encenador poderia resolver os seus problemas doutra maneira.
Raul
Um bocadinho pirosa, a fotografia...
ResponderEliminarTeresa
Teresa e Raul,
ResponderEliminarEnfim, coisas da liberdade criativa (ou interpretativa?)!
Sim à liberdade interpretativa!
ResponderEliminarNão à burla e não à criatividade delirante! Não conheço a encenação e sou aberto a visões "diferentes" desde coerentes e devidamente fundamentadas pelas acções em palco e pelo encadeamento da trama. O resto é megalomania e frustação ou ignorância. Também já não suporto algumas encenações "realistas" mas existem limites de bom gosto, culturais, históricos e antes de mais contextuais.
J. Ildefonso.
Caro Raúl.
ResponderEliminarNão me agride nada imaginar a D. Ana atraida pelo D Giovanni. Ele é novo, bonito, rico e provavelmente um amante gratificante. Aliás a música da D. Ana relativa ao D. Octávio é um pouco frouxa e ele não me parece um rapaz com capacidade de resolução" para a D. Ana mas daí a pô-la a violar o D. Giovanni vai muita música.
J. Ildefonso.
Fiquei tão aborrecida com algumas das críticas que li a semana passada - do género "ninguém que pague o balúrdio que custa uma entrada no Festival de Salzburgo quer ver um Don Giovanni decadente e heroinómano" - que me decidi a intervir de relance na vossa sempre interessante tertúlia. Também o artigo de Vela del Campo é bastante frustrante.
ResponderEliminarEra preciso escrever bastante para relatar e criticar adequadamente a encenação de Guth. Hoje que as férias acabaram não estou com a adrenalina suficiente para o fazer, pelo que apenas vou apontar que (de facto, J. Ildefonso) eu apreciei muitíssimo a incrível e surpreendente coerência dramatúrgica da encenação, concebida como uma espécie de pesadelo de uma noite de Verão... Guth não deixou, como se diz, nada ao calhas.
Julgo aliás que vale a pena esperar a ver o que vai fazer com o Cosí para fazer uma crítica mais séria da "trilogia" completa, para além das acusações de umbiguismo e similares.
Abraço, Teresa (la otra)
Teresa
ResponderEliminarNão conheço a encenação em questão e pretendia fazer comentários de carácter geral. Vou tentar informar-me melhor para poder comentar.
J. Ildefonso.
Caro J. Ildefonso, dirigi-me directamente a si apenas porque colocou - e de forma muito pertinente - a questäo da coerência e porque, precisamente, esse foi para mim um dos maiores triunfos da leitura de Claus Guth!
ResponderEliminarAbraço, Teresa.
Cara Teresa.
ResponderEliminarSim, a coerênçia e o contexto para mim são muito importantes. Não me agride nada um D. Giovanni toxicodependente. Mas ganhamos alguma coisa nova com isso? A dependencia do D. Giovanni parece ser a sedução e se tivermos absolutamente de fazê-lo toxicodependente talvez a euforia da cocaina seja mais coerente com o seu carácter musical do que a depressão da heroina!
Esclareço novamente que comento sem conhecimento de causa só pelo prazer de comunicar e trocar ideias.
J. Ildefonso.
Lembrei-me duma coisa que talvez possa ajudar a Teresa a compreender o que eu quero expressar. Considero o Simon Keenlyside o meu moderno D. Giovanni ideal através da analise da gravação com o Abbado e dos exertos disponiveis no youtube. Uma voz atlética mas não grande, um timbre bonito sem ser excepcional, uma grande capacidade de "nuance", uma presença cénica dinâmica, elegante e aristocrática, uma presença acariciadora mas também capaz de usar a força. Infelizmente nunca o vi nesse papel mas imagino que se aproxime muito da imagem que eu tenho do personagem.
ResponderEliminarPara concluir... estou um bocado farto de encenações com "ideias"! Acho que esou a ficar velho e obtuso e de muito mau humor!
J. Ildefonso.
Eu gosto de velhos obtusos e com mau humor que sabem defender com elegância e persuasäo as suas ideias!
ResponderEliminarTenho pena de andar numa correria por causa dos exames e do regresso ao trabalho. Mas, só para responder apressadamente ao que diz sobre a droga, o interessante foi precisamente a maneira como esse pormenor se integrou de forma, por assim dizer, natural no drama, sem alterar substancialmente o que costumamos pensar a propósito desta obra (nada a ver com a versäo feiosa de Calixto Bieito, apesar dalgumas coincidências). Diria, ainda, que, perante isto, fiquei entusiasmada da mesma forma que posso admirar o desenvolvimento de um motivo nas mäos de Haydn ou de Beethoven...
Ao mesmo tempo, o dito pormenor, interfere na maneira como percebemos o que Don Giovanni e Leporello fazem e dizem e sublinha o seu niilismo, aproximando-o daquele que hoje em dia vivemos, assim como o terror, que se tenta näo confrontar lucidamente, perante a morte.
Obviamente, apesar de tecnicamente impressionante, a de Guth é "uma" interpretaçäo. Näo é "a" interpretaçäo, mas isso näo lhe retira mérito algum.
Abraço aos tertulianos, Teresa (la otra).
Teresa,
ResponderEliminarVuelve siempre, cara ;-)
Não deixes de ver Le Nozze di Figaro d'après Guth, ok? Depois conta...
Persuasão é caracteristica da Teresa. Estou muito curioso e espero que seja editado em d.v.d..
ResponderEliminarJ. Ildefonso.