With a chip on the shoulder, comme d’habitude d’ailleurs, la critique française casse la création lyrique de l’année qui a eu lieu au Châtelet, cette semaine, la regardant d’un air méprisant :
La coïncidence est absolue, on ne s’étonne pas…
«Hormis quelques couleurs et effets sonores à fort potentiel dramatique, Shore a autant de mal avec l’orchestration qu’avec le rythme. Cordes jamais divisées produisant de grossiers unisons, tuilages inexistants font illusion au cinéma, pas à l’opéra, où la musique, loin de simplement ajouter une dimension au drame, est le drame lui-même.
Grand lamento de deux heures, la partition dirigée à la truelle par Placido Domingo - célèbre ténor et directeur musical de l’Opéra de Los Angeles - est aussi loin de la mélodie infinie wagnérienne que de la frénétique variété bernsteinienne. Shore a également dû écouter les opéras de son contemporain John Adams. Il en a retenu quelques ficelles. Passé un clock ligetien introductif, les idées rythmiques se limitent aux successions de triolets, avec retards affectés venant contrarier la pulsation d’un ostinato.
L’écriture vocale est encore plus pauvre : pas un «air» digne de ce nom. L’atonalité est un cache-misère quand prosodie, jeu des accents et des valeurs, sont à ce point négligés. Du coup, les chanteurs hurlent tant bien que mal sans trop savoir où commencer et finir un diminuendo. Seul un ténor, Jay Hunter Morris, nous fait douter de la maladresse absolue de Shore. Son chant est si parfaitement articulé et rythmiquement marqué qu’on a l’impression que même l’orchestre est en place. On se dit alors que dirigée par un vrai chef, comme Esa-Pekka Salonen, cette Mouche n’en serait pas plus riche musicalement, mais sonnerait déjà moins bancale.
Divertissement. Certaines huées de mélomanes trouant la nuée d’applaudissements prévisibles, ont marqué le retour au podium de Domingo après l’entracte, puis l’arrivée du compositeur au moment des saluts. Où est aujourd’hui l’opéra, se demandera-t-on, s’il n’est pas plus dans les ratages de compositeurs «sérieux» comme Benjamin, Saariaho ou Haas que dans celui du «pop» Howard Shore ? Un peu partout et donc beaucoup nulle part. En l’occurrence, The Fly s’apparente à un divertissement à l’américaine sympathique, monté avec un réel savoir-faire de la chose scénique, et empreint d’une attachante candeur dans sa manière de conjuguer série B et réflexion métaphysique.»
«La montagne a accouché d'un insecte. À l'entracte, après une heure sur les deux que dure le spectacle, on s'était déjà tellement ennuyé que l'on soupçonnait fortement la présence parasite de la mouche tsé-tsé.
Une écriture vocale lassante
Que s'est-il passé ? Howard Shore est un musicien sincère et talentueux. Mais là où une musique de film est au service d'une action dont elle suit linéairement le déroulement, le compositeur d'opéra n'est pas un humble serviteur ; il est à lui-même son propre dramaturge, il bâtit une construction musicale dont il prend l'initiative. La musique de La Mouche est passive. À vouloir respecter le texte du livret, plus narratif que théâtral, Shore se prive de toute progression, de toute modulation, de tout contraste. Il en résulte une mélasse monocorde faite d'accords uniformes et d'orchestrations par blocs, tapis déployé deux heures durant sous une écriture vocale lassante, arioso continu qui empêche de caractériser les personnages et de varier les climats.
La direction massive de Domingo, à la tête d'un Philharmonique de Radio France qui tente d'y croire, n'aide pas vraiment, couvrant plus d'une fois les chanteurs : c'est d'autant plus dommage que ceux-ci sont tout simplement excellents et que Daniel Okulitch et Ruxandra Donose habitent leurs rôles avec une ferveur inversement proportionnelle à la qualité de la musique qu'ils ont à défendre.
Cet engagement palpable des interprètes, c'est le signe de la direction d'acteurs de Cronenberg, seule marque de fabrique repérable du cinéaste. Pour le reste, la production confirme que cinéma et théâtre, à plus forte raison lyrique, sont bien deux arts différents, et que la transposition de l'un à l'autre ne va pas de soi : les maquillages de Stephan Dupuis sont une œuvre d'art, mais la distance ne fait qu'aplatir ce que le gros plan magnifie.
Effet pervers du respect intimidé envers un genre que l'on croit relever du musée : on nous promettait une œuvre moderne, voici un spectacle figé dans la convention poussiéreuse. Le public a aimé.»
Et le public – cette masse imbécile et ignorante, prise d’un mauvais goût frappant – apprécie la création…
ESTES GAULESES, NÃO RARAS VEZES, SÃO DE UMA SNOBEIRA INATURÁVEL!
Apenas um reparo:
ResponderEliminarA critica gaulesa é de quem (autor do texto que citas)?
Parece-me uma critica que procura ser clara e justificar os juizos que o seu autor vai produzindo , o que permite que seja contestada e discutida por quem tenha opinião diferente e, nesse sentido, não me parece snob. Termina com a constatação de uma diferença, amarga, é verdade, e ainda crítica, entre o critico e o público ...."le public à aimé".
Segundo o crítico não terás perdido grande coisa ao trocares o Châtelet pela SPP para uma conferência sobre "as raizes da intolerância" ;-)
PS- A foto da varejeira é magnífica!
Teresa
Pois não sei se será snob mas coloca em meu entender uma questão interessante. se o público gostou (tanto?) e o critico não, de quem é a razão? É claro que esta questão não se esgota nesta única ocasião. Do ponto de vista geral qual a sua opinião?
ResponderEliminarTeresa,
ResponderEliminarBasta clicares nas citações para conheceres os jornalistas franceses!
O irónico da questão é que a crítica francesa, quase invariavelmente extrema as suas posições, ao passo que a inglesa é mais moderada! Como imaginas, conheço muito bem a crítica dos franceses e revejo-me nela, mas a sua snobeira é fastidiosa!
Fernando,
ResponderEliminarEra o que mais faltava se tivéssemos de tomar decisões com base em opiniões críticas! Aqui para nós, na nossa área, haverá duas que respeito - Jorge Calado (com as devidas reservas, relativas a uma passionalidade snob) e Bernardo Mariano.
A música e criação destinam-se a ser fruídas pelo povo, não pelo erudito ressabiado, de mal com a vida ;-)
João,
ResponderEliminarConcordo plenamente consigo: prefiro mil vezes a crítica sensata, equilibrada e desapaixonada dos ingleses. A crítica francesa persiste em "odiozinhos de estimação", usa termos vulgares e cai, como muito bem diz, na "snobeira". Claro, com em tudo, há excepções. Não por acaso que Verdi e Wagner pensavam o pior do gosto musical dos parisienses. Aquela de impor um bailado em cada ópera é o que se pode chamar um "atentado à criatividade artística".
RAUL
Acho que entendo o vosso ponto de vista.
ResponderEliminarMas, pessoalmente, não sou tão avessa com respeito às críticas apaixonadas,em arte, desde que informadas e desde que fique claro e visível que estamos perante uma paixão.
Afinal uma crítica é sempre uma leitura pessoal e histórica. Serve para suscitar dúvidas,estimular o(s) pensamento(s).
Para a informação haverá outras fontes.
Por vezes as críticas mais "objectivas",não deixam de conter paixões, só que não as explicitam. E, nesse sentido,
deixam-nos só aparentemente mais esclarecidos...por vezes menos críticos...e muitas vezes tristemente desapaixonados...
o que é uma prisão da alma em arte, como de resto noutras dimensões da vida.
Teresa (tea, thea)
Thea,
ResponderEliminarPelo contrário, uma crítica apaixonada é cega, emparededora, limitada, não deixando espaço para outros, pois apropriou-se dele de forma fundametalista.
Em ópera, se eu quero criticar o objecto para que os outros conheçam a minha opinião, eu devo persuadir, para depois se ir para a discussão, como tão bem se faz neste blogue.
RAUL
Raul,
ResponderEliminarJulgo entender o que quer dizer, Haverá porventura uma concepção diferente do que será uma critica apaixonada. Não entendi muito bem o que entende por "persuadir". Em todo o caso parece-me que quanto ao essencial estamos de acordo, o importante é que a palavra, também a da crítica, não emparede o pensamento nem a alma.
Thea
Thea,
ResponderEliminarEu persuado sempre que for claro, um pouco distante, mas com bons argumentos. É lógico que ao ler "este/a é o/a melhor..." eu pondero, mas tem que ver com a pessoa que diz isso.
Agora quando o crítico Jorge Calado me vem com "Haendel é o maior compositor de óperas de sempre", com o qual discordo "visceralmente", eu considero uma "boca de crítico".
RAUL