Lars Von Trier não é um cineasta por quem nutra grande admiração. A sua pretensa ruptura com o discurso fílmico mais convencional (seja lá isso o que for!), do meu ponto de vista, decorre de uma excessiva familiaridade com a perturbação mental, e não tanto de opções estéticas alternativas.
Contactei com a obra de Von Trier em três ocasiões: Os Idiotas (1998), Ondas de Paixão (1996) e Dançando no Escuro (2000).
Do primeiro filme a que assisti, pouco ou nada recordo, além do desagrado que me causou; do segundo, retive uma repulsa indisfarçável, motivada por uma apologia do universo perverso que, não raras vezes, transformou Funny Games e o próprio Salò (de Pasolini) em filmes para crianças!
Em Dancer in the Dark, uma vez mais na senda do insano, Lars Von Trier propõe-nos um irrecusável mergulho no universo da psicose (loucura, na vulgata).
Selma apresenta uma evolução psicótica inequívoca, sendo a alienação o seu destino.
Desde logo, Von Trier estabelece inúmeros paralelos, que constituem verdadeiras representações do vivido insano (a que clinicamente se chama experiência psicótica): o paralelo cegueira – retraimento relacional / autismo é notável, como brilhante é o paralelismo condenação à morte – desertificação psíquica (na psicose, o risco maior é a evolução deficitária, que dita a morte do pensamento).
O universo em que a personagem principal se move, com duas ou três excepções, rege-se pela ansiedade de perseguição: exploradores, crápulas, perversos, todos se unem contra a frágil criatura, aparentemente indefesa.
Em meu entender, o que de mais extraordinário existe neste filme prende-se com a subtil imposição da lógica psicótica: a realidade de Selma invade diplomaticamente a demais realidade, a ponto de nos colocar no seu interior; i.e., rapidamente nos identificamos à frágil mulher, reconhecendo nos outros dimensões eminentemente persecutórias, que de modo franco se sobrepõem a outras, de tonalidade emocional mais conforme à realidade das relações humanas, onde a ambivalência (coexistência do bom e mau) reina.
Contactei com a obra de Von Trier em três ocasiões: Os Idiotas (1998), Ondas de Paixão (1996) e Dançando no Escuro (2000).
Do primeiro filme a que assisti, pouco ou nada recordo, além do desagrado que me causou; do segundo, retive uma repulsa indisfarçável, motivada por uma apologia do universo perverso que, não raras vezes, transformou Funny Games e o próprio Salò (de Pasolini) em filmes para crianças!
Em Dancer in the Dark, uma vez mais na senda do insano, Lars Von Trier propõe-nos um irrecusável mergulho no universo da psicose (loucura, na vulgata).
Selma apresenta uma evolução psicótica inequívoca, sendo a alienação o seu destino.
Desde logo, Von Trier estabelece inúmeros paralelos, que constituem verdadeiras representações do vivido insano (a que clinicamente se chama experiência psicótica): o paralelo cegueira – retraimento relacional / autismo é notável, como brilhante é o paralelismo condenação à morte – desertificação psíquica (na psicose, o risco maior é a evolução deficitária, que dita a morte do pensamento).
O universo em que a personagem principal se move, com duas ou três excepções, rege-se pela ansiedade de perseguição: exploradores, crápulas, perversos, todos se unem contra a frágil criatura, aparentemente indefesa.
Em meu entender, o que de mais extraordinário existe neste filme prende-se com a subtil imposição da lógica psicótica: a realidade de Selma invade diplomaticamente a demais realidade, a ponto de nos colocar no seu interior; i.e., rapidamente nos identificamos à frágil mulher, reconhecendo nos outros dimensões eminentemente persecutórias, que de modo franco se sobrepõem a outras, de tonalidade emocional mais conforme à realidade das relações humanas, onde a ambivalência (coexistência do bom e mau) reina.
(Björk, extraordinária, em Dancer in the Dark)
Hello B!
ResponderEliminarTens que ver o Dogville... brilhante neste mecanismo que identificas, ainda mais porque em Dogville, Von Trier encena todo o filme em cima de um palco, caindo toda a beleza natural deste Dancer in the Dark e do magnífico-soberbo-avassalador Ondas de Paixão, ficando "apenas" a vitima boazinha (kidman) contra todos os males do mundo, incluindo os praticados próprio pai (que riqueza psicanalítica!)
Miss u
abraço
Falta neste Blog um comentário teu ao novo episódio JVA - João Vale e Azevedo... o protagonista da Quinta da Ribe Fria responde ao mandato de captura da justiça portuguesa com passeatas de iate, um Bentley ao seu serviço e uma vida de sofrimento numa casita de 4 andares em Londres...
ResponderEliminarDelicioso, precisávamos de mais personagens destas: afinal de contas tem o mérito de gozar frontalmente com o pagode!
ábraço
Dear B,
ResponderEliminarTransmissão de pensamentos ;-)
Estava a pensar em te propor uma ida à Madeleine Peyroux, a 17 de Julho?! Ando maravilhado com ela!
Miss u 2
E esta?
ResponderEliminarHaneke recria fielmente Funny Games, 10 anos depois, nos USA, alterando "apenas" os actores e os locais.
Este "apenas", sem ter visto o filme, não me parece pequeno, pois a envolvência austríaca é fundamental no filme original. Como viverá na América ? Se for a de Van Sant se calhar até se safa...
http://www.imdb.com/title/tt0808279/
Vi o Don Giovanni do Haneke em Paris com o Ildebrando D'Arcangello e a Schaffer e gostei muito.
ResponderEliminarJ. Ildefonso.