domingo, 29 de junho de 2008

Cromatismos: Bergman & Verdi

Na psicanálise, o tratamento da cor assenta no simbolismo, que evidentemente pressupõem uma correspondência directa entre conteúdo manifesto (consciente) e conteúdo latente (pré-consciente, inconsciente). De facto, o comum dos mortais compreende que uma virgem se vista de branco, uma viúva de negro e uma puta de vermelho.

Tendencialmente, a mente humana procura identificar a cor com um afecto / emoção: negro – disforia, vermelho – sexualidade e / ou agressividade, branco – pureza.

A prova destas equações é-nos dada – entre outros – pelo soberano olhar de Ingmar Bergman, bem como pela extraordinária mise-en-scène de Luc Bondy.



Tanto em Lágrimas e Suspiros, como no Don Carlos, de forma magistral e plenamente carregada de um simbolismo profundo e ancestral, o escarlate, o negro e o branco cruzam-se, ilustrando a trama, sua evolução e desenlace.

4 comentários:

  1. Belíssimas, as imagens!

    De súbito fui levada a outra dimensão, a da luz, e aos quadros de Vermeer. A luz , usada como nunca, para realçar uma expressão, uma emoção, aprofundar ou criar uma atmosfera.
    E, em associação livre, surge-me um poema de Sophia:

    Instante

    Deixai-me limpo
    O ar dos quartos
    E liso
    O branco das paredes
    Deixai-me com as coisas
    Fundadas no silêncio


    Tea

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  2. Desculpe contradizê-lo, mas o uso simbólico da cor não é universal: há culturas em que o branco é a cor do luto (países muçulmanos) e o encarnado a cor das noivas (China).

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  3. G,
    Concordo em absoluto.O simbolismo da cor não é universal. Em todo o caso, isso não me parece contradizer o essencial do texto de J., que me parece ser o de que as cores, pela ligação que estabelecem na estória individual (mediada pela cultura) às experiências emocionais, ficam guardadas em termos de representações mentais a experiências que, posteriormente, são evocadas e sentidas quando as re-vemos.

    Tea

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  4. Minhas Caras,

    Evidentemente, falo do mundo ocidental, está bem de ver ;-)

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