O episódio da Torre de Babel reenvia-nos ao Livro do Génesis.
No dito episódio, Deus pune a ousadia do homem - que empreendera a construção de uma torre que o levasse aos céus -, condenando-o ao desentendimento.
Assim explica a bíblia a profusão de idiomas, profusão essa tributária de uma comunicação-falha, imperfeita.
O gesto divino - porque punitivo - é da ordem da castração, sendo secundário a uma omnipotência aspirada: o homem que anseia por chegar a Deus, num movimento de identificação, é ferozmente castigado pelo Criador, que assim o remete à sua condição terrena, de criatura errante e, sobretudo, finita e mortal.
Este notável filme constitui, do meu ponto de vista, uma actualização do episódio da Torre de Babel. Uma sucessão de acontecimentos - não raras vezes mal interpretados... - gera episódios onde o não-entendimento e a falha na comunicação são centrais.
Como pano de fundo, temos a perda: entre a perda efectiva e a ameaça da mesma, todos os personagens circulam.
A ansiedade depressiva - que lado a lado com a castração define a natureza humana - é comum a todas as sub-tramas da película.
No filme, apreciei o enfoque na inexorável finitude, na sensibilidade à dor depressiva - por vezes dilacerante -, na incompletude, na falha...
A não perder!
O que Babel nos ensina é que o Homem para chegar a Deus, não pode ir pelo caminho da arrogância, mas do entendimento com o seu próximo. A arrogância e a presporrência só geram mais desentendimento.
ResponderEliminarPor que não assina ?
ResponderEliminarRaul Andrade Pissarra