Nos dias que correm, o contralto encontra-se em extinção!
Em boa verdade, desde o desaparecimento (prematuro...) de Kathleen Ferrier, os papeis de contralto passaram a ser assumidos por tessituras próximas - mezzo, no caso feminino, ou contratenor, no masculino.
Sendo discutível, a opção decorre da manifesta raridade de vozes femininas que se movimentem com grande à-vontade nos registos mais graves.
Os repertórios barroco, clássico e belcantista / romântico - falo de Rossini, sobretudo - consagraram inúmeras páginas ao contralto (sendo que, na época, a actual divisão de tessituras era inexistente).
Destacaria, neste âmbito, a escrita rossiniana, porventura a mais exigente, dado o virtuosismo que encerra.
Há dias, por mera casualidade, deparei com este registo de Ewa Podles, integralmente dedicado ao contralto rossiniano. Não hesitei um só segundo em adquiri-lo!
Podles fascinara-me, há uns anos, na Ariodante (de Handel), onde sob a direcção de Minkowski interpretou um Polinesso impressionante.
Nesta interpretação - que os franceses veneram, não sem razões... -, é interessante observar a diferença nítida entre as tessituras de Von Otter (mezzo) e Podles (mais na linha do contralto).
Não há margem para dúvidas!!!
De qualquer modo, curiosamente, na maioria dos casos, a intérprete polaca apresenta-se como mezzo! Surpreende-me, pois a meu ver, o seu registo dominante é o grave!!!
Porém, a razão que ora aqui me trás prende-se com este artigo, que conta já com alguns anitos.
(NAXOS 8.553543)
Ewa Podles aborda todo o leque rossiniano - buffo, serio, lírico e coloratura, etc.
Sinteticamente, diria que esta magistral cantora se impõe pela robustez cénica e vocal, evidenciando fragilidades no tocante à agilidade.
Podles possui uma voz grande e ampla, bem cheia. Combina bem com o domínio heróico e lírico-travestido - Arsace (Semiramide) Tancredi (da ópera homónima), Calbo (Maometto II) e Malcolm (La Donna del Lago).
Já no tocante ao domínio buffo-coloratura, se é verdade que convence pelo humor, no que se refere à ornamentação vocal (leia-se agilidade / coloratura), titubeia.
Ainda assim, não possuindo, nem a disciplina, nem a técnica belcantista (vide Horne, Valentini-Terrani, Baltsa e Bartoli), esta singularíssima intérprete convence!
Ewa Podles goza de uma impar versatilidade teatral, a que se associa uma imensidão de meios!
Nota: não servindo de argumento - espera-se! -, advirto que este registo ronda os 6 euros, dado que a NAXOS mantém a sua politica baseada em intérpretes pouco conhecidos (!?), comercialmente não onerosos...
Em boa verdade, desde o desaparecimento (prematuro...) de Kathleen Ferrier, os papeis de contralto passaram a ser assumidos por tessituras próximas - mezzo, no caso feminino, ou contratenor, no masculino.
Sendo discutível, a opção decorre da manifesta raridade de vozes femininas que se movimentem com grande à-vontade nos registos mais graves.
Os repertórios barroco, clássico e belcantista / romântico - falo de Rossini, sobretudo - consagraram inúmeras páginas ao contralto (sendo que, na época, a actual divisão de tessituras era inexistente).
Destacaria, neste âmbito, a escrita rossiniana, porventura a mais exigente, dado o virtuosismo que encerra.
Há dias, por mera casualidade, deparei com este registo de Ewa Podles, integralmente dedicado ao contralto rossiniano. Não hesitei um só segundo em adquiri-lo!
Podles fascinara-me, há uns anos, na Ariodante (de Handel), onde sob a direcção de Minkowski interpretou um Polinesso impressionante.
Nesta interpretação - que os franceses veneram, não sem razões... -, é interessante observar a diferença nítida entre as tessituras de Von Otter (mezzo) e Podles (mais na linha do contralto).
Não há margem para dúvidas!!!
De qualquer modo, curiosamente, na maioria dos casos, a intérprete polaca apresenta-se como mezzo! Surpreende-me, pois a meu ver, o seu registo dominante é o grave!!!
Porém, a razão que ora aqui me trás prende-se com este artigo, que conta já com alguns anitos.
(NAXOS 8.553543)
Ewa Podles aborda todo o leque rossiniano - buffo, serio, lírico e coloratura, etc.
Sinteticamente, diria que esta magistral cantora se impõe pela robustez cénica e vocal, evidenciando fragilidades no tocante à agilidade.
Podles possui uma voz grande e ampla, bem cheia. Combina bem com o domínio heróico e lírico-travestido - Arsace (Semiramide) Tancredi (da ópera homónima), Calbo (Maometto II) e Malcolm (La Donna del Lago).
Já no tocante ao domínio buffo-coloratura, se é verdade que convence pelo humor, no que se refere à ornamentação vocal (leia-se agilidade / coloratura), titubeia.
Ainda assim, não possuindo, nem a disciplina, nem a técnica belcantista (vide Horne, Valentini-Terrani, Baltsa e Bartoli), esta singularíssima intérprete convence!
Ewa Podles goza de uma impar versatilidade teatral, a que se associa uma imensidão de meios!
Nota: não servindo de argumento - espera-se! -, advirto que este registo ronda os 6 euros, dado que a NAXOS mantém a sua politica baseada em intérpretes pouco conhecidos (!?), comercialmente não onerosos...
Caro João.
ResponderEliminarRealmente a voz de contralto encontra-se em extinção. No activo conheço a referida Podles, que eu muito aprecio desde que deu um recital no T.N.S.C. na decada de 90, e a Nathalie Stutzman.
Prefiro a Podles pela beleza do timbre aveludado e quente e pela notável extensão da voz governada por uma técnica sólida. Dela para além do referido recital tenho também da Naxos um notável Tancredi. A Nathalie Stutzman cantou uma Viagem de Inverno na Gulbenkian que me encantou no entanto acho que a voz dela perdeu alguma qualidade timbríca nos últimos anos e que hoje em dia será mais a dum meio-soprano do que a dum verdadeiro contralto.
Quanto à Sara Mingardo, publicitada como o último contralto!, basta comparar as gravações para notar a delicadeza do timbre e relativa inconsistência vocal da Sara Mingardo para contestar as levianas afirmações da imprensa Portuguesa.
J. Ildefonso.
Que maravilha o contralto rossiniano ! Que maravilha o papel de Arsace da Semiramide.
ResponderEliminarNunca ouvi a Ewa Podles nem a Nathalie Stutzman; quanto à Sara Mingardo fiquei um bocado decepcionado com a sua prestação no video da Ermione e não acho uma voz de contralto.
Embora considerada um mezzo, o registo contralto da Marilyn Horne enche-me as medidas.
Raul
João,
ResponderEliminarTembém tenho o citado Tancredi, com a Podles, que adoro! Quanto à Mingardo, partilho da tua opinião: não me parece fora do bom...
Raul,
ResponderEliminarObviamente venero a Horne (e pensar que começou como soprano!!!) Mas experimente a Podles, no Tancredi! É um super-bargain - custou-me, apenas, 12 euros, pois é da NAXOS!
Caros amigos amantes da voz de contralto:-))
ResponderEliminarEsqueci-me de referir a Daniella Barcelona que vi em Pesaro no Tancredi e em Barcelona na Semiramide com o Florez. Espantosa pela beleza da voz e intuição dramática.
J. Ildefonso.
Mais um admirador
ResponderEliminarOuvi pela primeira vez a E. Podles numa igreja de Setúbal, integrada no extinto Festival dos Capuchos. Há muitos anos, já não sei a data, mas muito anterior à sua vinda a S. Carlos. O timbre é espantoso, e creio que as gravações o não conseguem captar. Em Ariodante aproxima-se. Quanto à Sara Mingardo: por favor ouçam-na no Stabat Mater de Vivaldi com o R. Alessandrini. A voz não será muito grande, mas a subtileza da interpretação parece-me única. anc
Caro/a ANC
ResponderEliminarAcho a Sara Mingardo uma boa artista muito musical e bastante interessante mas não a considero um contralto. Falta-lhe o timbre escuro, a amplitude vocal, a dimensão heroica.
J Ildefonso.
Caro João,
ResponderEliminarPois fica sabendo que o 3º Tancredi que tenho é com a Barcellona, gravado live from Pesaro :-)
Se você não ficou satisfeito com a Podles no tocante a agilidade, procure ouvir o seu álbum com árias das óperas handelianas Rinaldo e Orlando e você ficará surpreso. Não apenas com a agilidade, mas tb com o preciosismo e o fraseado. Divina!
ResponderEliminarCaro ANC,
ResponderEliminarO Stabat Mater de Vivaldi, para mim, é coisa de contra-tenores: Daniels ou Scholl!
Em todo o caso, quando puder, vou seguir o seu conselho ;-)
Caro Idomeneo,
ResponderEliminarEstive este fim-de-semana em Paris, de onde trouxe o cd que refere! Depois dir-lhe-ei o que penso, ok?
Realmente a sara Mingardo o que pareçe é um bom contratenor!
ResponderEliminarJ. Ildefonso.
VOZ FABULOSA.
ResponderEliminarTive ocasião de visualisar um video desta enorme cantora cantando o dueto de Arsace com Semiramide, esta cantada pela grande Mariella Devia. A voz de contralto rossiniano puro deixou-me de rastos, pois era a primeira vez que ouvia Ewa Podles. Que grande cantora !
Raul