sábado, 23 de julho de 2005

O mau das sublimes

O que há de belo, além da emissão vocal ?
O texto !
A (re)discussão em torno da primazia da música ou da palavra, para os casos em questão, é secundária, senão irrelevante.

Eis dois exemplos discográficos infelizes, que padecem de um mal comum: apoiados em vozes sublimes - particularmente a de Fleming, quiçá a mais luminosa do momento... -, totalmente desadequadas face ao repertório escolhido - lírico-dramático-spinto, no caso de Crespin, e barroco, no de Fleming -, as duas grandes cantoras manifestam uma indesmentível desatenção diante dos textos das árias que interpretam, colando-se às respectivas partituras.

Crespin - soberba wagneriana, venerada em Bayreuth e escandalosamente esquecida na sua pátria - canta o suplício de Leonora (de Il Trovatore, de Verdi) e a Canção do Salgueiro (Desdemona, de Otello, de Verdi) sem a mais pequena inflexão... De um autismo absoluto ! Sem o mínimo resquício de afecto !
Desolador.



Fleming - digníssima mozartiana, elegantíssima straussiana... -, além de negligenciar os textos, revela uma particular inabilidade técnica para interpretar Handel. Não é uma cantora barroca, voilà !
A voz mantém a frescura habitual, melodiosa e sensual. A interpretação - o calcanhar de Aquiles habitual da americana -, nem tanto...



...duas excepções que confirmam a regra...

5 comentários:

  1. Entendi... daqui a mil anos-luz eu volto e comento: tenho que comer muita feijoada ainda para poder comentar um texto seu, ô caro Dissoluto!

    Abraço.

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  2. Paloma,

    Não se subestime, mulher! Já agora, sabe do Jacques? Há muito que não sei dele :-(((

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  3. Com a divina Crespin temos de ter uma certa tolerância... :)
    Raul

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  4. Raul,

    Idem aspas, no caso da Fleming, igualmente divina!

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  5. Sem dúvida, que também é divina.
    Raul

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