Incessante é o meu interesse pela música francesa dita erudita !
Nesta errática viagem, invariavelmente, o denominador comum tem sido Boulez, exímio maestro, compositor discutível e menos consensual...
Aprecio-o, sobretudo, em Mahler, Ravel e Debussy.
(DG 471 614-2)
Neste registo - que muito apreciei -, Pierre Boulez faz-se acompanhar por duas das suas cantoras fétiche: a notável mezzo sueca von Otter e a mais discreta soprano Alison Hagley.
Von Otter - que deslumbra num vasto território lírico, de Monteverdi a Berg, passando por Mozart, Strauss e Korngold -, a meu ver, é particularmente hábil e expressiva nos repertórios francês e alemão, cujos idiomas domina, mais que não seja, no que respeita aos respectivos acentos!
A Schéhérazade que von Otter interpreta neste registo constitui a principal virtude do mesmo.
O fraseado é nobre, assaz audacioso e surpreendentemente cálido - embora não tão feminino quanto seria desejável... -, assentando num francês exemplar, bem articulado e aberto.
Inusitada é a sensualidade que brota desta leitura!
De facto, Anne Sofie von Otter, que é uma actriz dotadíssima, sempre foi avessa a papeis marcadamente femininos, optando por figuras travestidas: Octávio (Der Rosenkavalier, de R. Strauss), Ariodante, (papel titular da ópera homónima, de Handel), Sesto (Giulio Cesare, de Handel), Sesto (La Clemenza di Tito, de Mozart) constituem personagens da predilecção da mezzo sueca, com que se afirmou e notabilizou.
É verdade que, mais recentemente, nomeadamente em Glyndebourne, para surpresa de muitos, lançou-se na interpretação da Carmen, provavelmente a mais fogosa e sensual das figuras da ópera. Quem a viu diz ter ficado convencido; tenho as minhas dúvidas...
Noutro quadrante, ainda em Ravel, destacaria a interpretação de Boulez da peça Pavane pour une infante défunte, obra de contornos marcadamente elegíacos.
Boulez envolve-nos num jogo intimista e nostálgico, comovendo pela singeleza da sua leitura.
Por fim, refira-se a interessante interpretação de Le jet d´eau, a cargo de Alison Hagley.
Hagley é uma soprano de segunda linha, comercialmente falando.
Gardiner, sabiamente, fê-la interpretar Suzana, d´As bodas de Fígaro. Hagley correspondeu em pleno, compondo uma hábil figura, vocalmente disciplinada e muito convincente - ardilosa, divertida e perspicaz - em termos interpretativos.
Boulez já a havia contratado para interpretar Mélisande, numa gravação de que apenas existe um registo em dvd, (DG, se a memoria não me atraiçoa...)
É verdade que os meios vocais da soprano são algo limitados : a voz é pouco extensa, algo inflexível, e insegura nos agudos. Ainda assim, trata-se de uma voz com carácter, de timbre claro, muito digna e inteligentemente gerida.
A interpretação desta composição de Debussy - baseada num belíssimo poema de Baudelaire, prolixo em referências eróticas - é diáfana, muito rica, mas discreta, nas expressões do rico simbolismo do poema.
Nesta errática viagem, invariavelmente, o denominador comum tem sido Boulez, exímio maestro, compositor discutível e menos consensual...
Aprecio-o, sobretudo, em Mahler, Ravel e Debussy.
(DG 471 614-2)
Neste registo - que muito apreciei -, Pierre Boulez faz-se acompanhar por duas das suas cantoras fétiche: a notável mezzo sueca von Otter e a mais discreta soprano Alison Hagley.
Von Otter - que deslumbra num vasto território lírico, de Monteverdi a Berg, passando por Mozart, Strauss e Korngold -, a meu ver, é particularmente hábil e expressiva nos repertórios francês e alemão, cujos idiomas domina, mais que não seja, no que respeita aos respectivos acentos!
A Schéhérazade que von Otter interpreta neste registo constitui a principal virtude do mesmo.
O fraseado é nobre, assaz audacioso e surpreendentemente cálido - embora não tão feminino quanto seria desejável... -, assentando num francês exemplar, bem articulado e aberto.
Inusitada é a sensualidade que brota desta leitura!
De facto, Anne Sofie von Otter, que é uma actriz dotadíssima, sempre foi avessa a papeis marcadamente femininos, optando por figuras travestidas: Octávio (Der Rosenkavalier, de R. Strauss), Ariodante, (papel titular da ópera homónima, de Handel), Sesto (Giulio Cesare, de Handel), Sesto (La Clemenza di Tito, de Mozart) constituem personagens da predilecção da mezzo sueca, com que se afirmou e notabilizou.
É verdade que, mais recentemente, nomeadamente em Glyndebourne, para surpresa de muitos, lançou-se na interpretação da Carmen, provavelmente a mais fogosa e sensual das figuras da ópera. Quem a viu diz ter ficado convencido; tenho as minhas dúvidas...
Noutro quadrante, ainda em Ravel, destacaria a interpretação de Boulez da peça Pavane pour une infante défunte, obra de contornos marcadamente elegíacos.
Boulez envolve-nos num jogo intimista e nostálgico, comovendo pela singeleza da sua leitura.
Por fim, refira-se a interessante interpretação de Le jet d´eau, a cargo de Alison Hagley.
Hagley é uma soprano de segunda linha, comercialmente falando.
Gardiner, sabiamente, fê-la interpretar Suzana, d´As bodas de Fígaro. Hagley correspondeu em pleno, compondo uma hábil figura, vocalmente disciplinada e muito convincente - ardilosa, divertida e perspicaz - em termos interpretativos.
Boulez já a havia contratado para interpretar Mélisande, numa gravação de que apenas existe um registo em dvd, (DG, se a memoria não me atraiçoa...)
É verdade que os meios vocais da soprano são algo limitados : a voz é pouco extensa, algo inflexível, e insegura nos agudos. Ainda assim, trata-se de uma voz com carácter, de timbre claro, muito digna e inteligentemente gerida.
A interpretação desta composição de Debussy - baseada num belíssimo poema de Baudelaire, prolixo em referências eróticas - é diáfana, muito rica, mas discreta, nas expressões do rico simbolismo do poema.
Tenho o DVD da Carmen e confesso que também não apreciei muito
ResponderEliminarRaul